quinta-feira, 19 de março de 2009

Ensaio sobre a cegueira




















O filme começa num ritmo acelerado, com um homem que perde a visão de um instante para o outro enquanto dirige de casa para o trabalho e que mergulha em uma espécie de névoa leitosa assustadora. Uma a uma, cada pessoa com quem ele encontra - sua esposa, seu médico, até mesmo o aparentemente bom samaritano que lhe oferece carona para casa terá o mesmo destino. À medida que a doença se espalha, o pânico e a paranóia contagiam a cidade. As novas vítimas da "cegueira branca" são cercadas e colocadas em quarentena num hospício caindo aos pedaços, onde qualquer semelhança com a vida cotidiana começa a desaparecer.Dentro do hospital isolado, no entanto, há uma testemunha ocular secreta: uma mulher (JULIANNE MOORE, quatro vezes indicada ao Oscar) que não foi contagiada, mas finge estar cega para ficar ao lado de seu amado marido (MARK RUFFALO). Armada com uma coragem cada vez maior, ela será a líder de uma improvisada família de sete pessoas que sai em uma jornada, atravessando o horror e o amor, a depravação e a incerteza, com o objetivo de fugir do hospital e seguir pela cidade devastada, onde eles buscam uma esperança.A jornada da família lança luz tanto sobre a perigosa fragilidade da sociedade como também no exasperador espírito de humanidade. O elenco conta com: Julianne Moore (Longe do Paraíso, As Horas), Mark Ruffalo (Zodíaco, Traídos Pelo Destino), Alice Braga (Eu Sou a Lenda, Cidade de Deus), Yusuke Iseya (Sukiyaki Western Django, Kakuto) Yoshino Kimura (Sukiyaki Western Django, Semishigure), Don McKellar (Monkey Warfare, Childstar), Maury Chaykin (Verdade Nua, Adorável Julia), Danny Glover (Dreamgirls - Em Busca de Um Sonho, A Cor Púrpura) e Gael García Bernal (Babel, Diários de Motocicleta, E Sua Mãe Também).



















O romance nos mostra o desmoronar completo da sociedade que, por causa da cegueira, perde tudo aquilo que considera como civilização e, (tal como em A Peste, de Albert Camus) mais que comentar as facetas básicas da natureza humana à medida que elas emergem numa crise de epidemia, Ensaio sobre a cegueira mostra a profunda humanidade dos que são obrigados a confiar uns nos outros quando os seus sentidos físicos os deixam. O brilho branco da cegueira ilumina as percepções das personagens principais, e a história torna-se não só um registro da sobrevivência física das multidões cegas, mas também das suas vidas espirituais e da dignidade que tentam manter. Mais do que olhar, importa reparar no outro. Só dessa forma o homem se humaniza novamente.




































http://www.ensaiosobreacegueirafilme.com.br/main.php
http://http//pt.wikipedia.org/wiki/Ensaio_sobre_a_Cegueira
http://www.cinepop.com.br/filmes/ensaiosobrecegueira.htm

sexta-feira, 6 de março de 2009

Diários de Motocicleta




exibição no cineclube zezinho dias 09 (manhã) e 12 (tarde).


Em 1952, dois jovens argentinos decidem se aventurar numa viagem de descobrimento pela complexa geografia física e humana da América Latina.
O meio de transporte: uma velha motocicleta Norton 500, ano 1939, conhecida como "La Poderosa".
O piloto: Alberto Granado, 29 anos, um bioquímico que se auto-define como "cientista vagabundo".
O co-piloto: Ernesto Guevara de la Serna, 23 anos, "El Fuser", estudante de medicina especialista em lepra, prestes a se formar.
O plano de viagem: percorrer oito mil quilômetros em quatro meses.
O objetivo: desvendar um continente, a América Latina, conhecida apenas pelos livros.
A rota: de Buenos Aires até a Patagônia, cruzando a Cordilheira dos Andes para chegar ao sul do Chile, atravessando o país até entrar no Peru, para depois conhecer Cuzco e Machu Picchu, e finalmente trabalhar no Leprosário de San Pablo, na Amazônia peruana.
Destino final: a península de Guajira, na Venezuela.
O que começa como uma aventura muda pouco a pouco de forma. O confronto com a realidade social e política da América Latina passa a alterar a percepção que os dois viajantes têm do mundo. Na primeira grande viagem de suas vidas, eles se deparam com as raízes profundas de um continente. A experiência vivida em um ano formativo de suas vidas vai resultar no despertar de novas vocações, associadas ao desejo de justiça social.
Baseado nos diários de Ernesto Guevara e de Alberto Granado, o filme narra a história de uma viagem iniciática no coração da identidade latino-americana.




Quando Robert Redford e Michael Nozik me convidaram para dirigir o projeto Diários de Motocicleta, eu já havia lido e relido o relato de Ernesto Guevara sobre sua primeira viagem através da América Latina com seu amigo Alberto Granado mas nunca pensei em fazer uma adaptação cinematográfica de um livro tão seminal.

Na capa da tradução em inglês havia uma citação que dizia: "O encontro de On the Road com das Kapital". Eu não me sentia preparado para lidar com um assunto tão amplo. Então, antes de iniciar, decidimos fazer um longo processo de pesquisa que acabou nos levando diversas vezes, no período de dois anos, a Argentina, Chile, Peru e Cuba.

Em Havana, tivemos a oportunidade de conhecer Alberto Granado, que em 1999 era um jovem de 80 anos, e o privilégio de conversar com a família Guevara. Sem esses encontros, este filme não existiria.

Foi Granado, um homem com uma memória extraordinária - e humor - que nos deu a informação decisiva que nutriria o roteiro de Jose Rivera. "Em 1952, eu tinha 29 anos e Ernesto, 23. Como a maioria dos argentinos daquela época, nós sabíamos mais sobre gregos e os fenícios do que sobre os incas e a América Latina. Não sabíamos realmente onde ficava Machu Picchu."

Isso definiu o curso que o filme tomaria. A história da busca de dois jovens para desvendar um continente desconhecido - antes do advento da televisão e da informação globalizada. Igualmente importante seria a história da cristalização da identidade dos jovens durante o processo.

"Inicialmente, a viagem era uma aventura, mas pouco a pouco Ernesto e Alberto descobriram a realidade social e política do continente em que viviam, e isso muda completamente o tom da jornada e quem eles viriam a se tornar", falou-nos o diretor do Centro de Estudos Ernesto Che Guevara em Havana.

Esta seria "un viaje iniciático", como se diria em espanhol. Um rito de passagem. Oito meses da vida de dois jovens que ao se separarem na Venezuela, no extremo do continente, não eram mais os mesmos que haviam iniciado a viagem na Argentina.

"Esta é uma história sobre Ernesto antes de se tornar El Che", também nos disse seu filho Camilo. Isto é essencial para compreender o filme. Diários de Motocicleta é a primeira viagem de Guevara pelo continente latino-americano. Ele ainda era um estudante de medicina especializando-se em leprologia quando, em 1952, subiu na garupa de Alberto Granado, na moto apelidada de "La Poderosa", uma Norton 500, de 1939. Foi apenas no final da segunda viagem pela América Latina que ele conheceu Raul e Fidel Castro, no México. Diários de Motocicleta acontece dois anos antes desse encontro e sete anos antes da vitória da Revolução Cubana, ocorrida em 1959.

Jose Rivera estava ciente disso quando escreveu o roteiro do filme, de forma que ele nunca deixa o jovem ser confundido com sua futura imagem mítica. Jose estava mais interessado em revelar o lado humano dos dois personagens singulares. Ele tentou olhar os dois jovens do modo como eles deviam ter sido, naquele momento e naquela época. Ele também buscou o humor tão vitalmente presente no diário de Guevara, e também no relato de Granado sobre a viagem. Ainda mais importante, acrescentou aspectos de gravidade conforme os dois viajantes aprofundam-se cada vez mais na jornada, semelhante ao roteiro de Ettore Scola para Il Sorpasso.

Para retratar o jovem Ernesto convidamos aquele que considero um dos mais raros e talentosos atores de sua geração: Gael Garcia Bernal. Isso aconteceu há três anos, depois de Amores Brutos (Amore Perros) e antes do lançamento de Y Tu Mama Tambien. Gael foi mais que um ator nesta jornada; foi um dos principais catalisadores de nossa aventura cinematográfica. Pesquisou incansavelmente para o papel durante meses. Fazia-nos ir em frente quando estávamos exaustos. Estava sempre inspirado, sempre disposto a tentar caminhos diferentes. E, como Ernesto, ele também estava pronto para cruzar o Rio Amazonas a nado - contra a corrente.

Foram realizadas sessões para escolha do elenco por toda a América Latina, o que nos trouxe a possibilidade de descobrir uma geração extraordinária de jovens atores argentinos, chilenos e peruanos. Talvez por serem as crianças da era pós-ditatorial do continente, por terem sido criadas em sociedades mais livres, diferente daquelas governadas pelo regime militar nos anos 1970, eles floresceram com a volta da democracia.

Uma das grandes revelações das sessões de elenco conduzidas por Walter Rippel foi Rodrigo de la Serna, que interpreta Granado no filme. "A semelhança física com o jovem Alberto é impressionante, mas este não foi o motivo pelo qual o escolhemos. Acho que Rodrigo é um jovem ator na tradição de grandes astros italianos como Vittorio Gassman e Alberto Sordi. Está sempre pronto a nos surpreender, misturando humor e drama de um modo único. Havia também uma incrível coincidência, que eu soube somente após tê-lo escalado: Rodrigo de la Serna é primo em segundo grau de Ernesto Guevara de la Serna."

Junto com o cinegrafista Eric Guatier, optamos pela simplicidade do formato super-16, mesclado com algumas poucas imagens feitas durante a noite em 35 mm. Também optamos por uma linguagem simples e direta para contar esta história. A maior parte do tempo, procurei evitar a imposição do "mise en scene", tentando me deixar levar pelo que estávamos encontrando na estrada, e não impor idéias pré-concebidas.

Para fazer este filme, atores e técnicos vieram de vários lugares, mas principalmente da Argentina, Chile, Peru e Brasil (Recuso-me a escrever o nome do meu país com 'Z'). Algumas vezes éramos só quinze, como quando filmamos em Cuzco e em Machu Picchu. Algumas vezes éramos mais de oitenta, como nas filmagens na colônia de leprosos em San Pablo, no Amazonas. Estávamos cientes das diferenças culturais e nem sempre tínhamos a mesma opinião. Mas, no fim das contas, eu acho que todos nós compreendemos o que Ernesto quis dizer quando concluiu seu diário dizendo que nós, latino americanos, somos parte de uma única raça, parte do mesmo continente - do México ao estreito de Magalhães.

Enquanto escrevo as últimas palavras destas notas, muitas imagens surgem à minha mente. Será que o filme conseguirá trazer de volta algumas das imagens do livro? Eu não sei, e não sou eu quem pode julgar. Só posso esperar que as discussões resultantes do filme gerem um debate interessante cujo foco seja a América Latina.



***

Algumas observações sobre o trabalho com Robert Redford e Michael Nozik:

Para mim, é difícil ser objetivo quando falo sobre Robert Redford. Sua inteligência como ator e sua sensibilidade como diretor sempre me impressionaram. Mas há mais do que isso. Ele também é um homem que apóia o cinema independente através do Instituto Sundance. Os seminários conduzidos pelo Sundance na Argentina, no Brasil (e também em Cuba) tornaram-se vitais para o cinema latino-americano. Se o roteiro de Central do Brasil não tivesse sido premiado com o Sundance-NHK em 1996, o filme provavelmente não existiria.

Redford e seu amigo e produtor Michael Nozik eram as únicas pessoas em quem eu podia confiar para levar adiante um projeto tão delicado do ponto de vista político como Diários de Motocicleta. Eles sempre lutaram pelo que eu acredito ser o lado justo da arena política. Eles compreenderam o que esta viagem significou para os latino-americanos. Prontamente concordaram que a única forma de fazer este filme seria em espanhol e não em inglês. Estavam sempre dando apoio e inspiração e toleraram minha angústia em muitos momentos difíceis da jornada.

Eu também gostaria de mencionar o nome de algumas outras pessoas que tornaram este filme possível. Gianni Mina, o respeitado jornalista italiano e documentarista que foi a primeira pessoa a publicar "The Motorcycle Diaries". Ele foi o supervisor criativo do projeto e suas sugestões foram fundamentais para o roteiro de Jose Rivera. Rebecca Yeldham, nossa produtora executiva, que desenvolveu este projeto na FilmFour e foi umas das melhores companheiras de viagem e de inspiração que nós podíamos sonhar em ter conosco nesta jornada. Paul Webster, que acreditou no projeto desde o início na FilmFour. E Tessa Ross, que continuou acreditando nele. Os produtores Karen Tenkhoff e Edgard Tenenbaum, que estiveram envolvidos no filme do início até o final. Carlos Conti, nosso inesquecível desenhista de produção, e muitos outros...

E por fim, mas não menos importante, gostaria de mencionar o nome de um mestre que teve a generosidade de se encontrar comigo mais de uma vez para falar sobre o projeto: Ettore Scola. Ele deu excelentes sugestões para o andamento do projeto e eu não poderia ser mais agradecido a ele por isso.

Na maior parte do tempo, não me sentia merecedor de estar fazendo este filme. Este grupo único de pessoas fez tudo valer a pena.


Walter Salles



Alberto Granado, companheiro de viagem de Ernesto "Che" Guevara na viagem retratada em Diários de Motocicleta, visitou o set de filmagem durante a produção do filme. Granado tem 81 anos e mora com a mulher e os filhos em Havana, Cuba. Tivemos a sorte de ter a oportunidade de conversar com ele sobre a experiência de ver suas aventuras da juventude sendo transformadas em filme:


P: Como se sente em relação ao fato de um filme estar sendo feito sobre sua viagem com Ernesto?

Sinto-me bastante surpreso. Quem poderia imaginar que a viagem de dois jovens para descobrir a América Latina chegaria a isso? É claro que você tem que levar em consideração que tanto Ernesto como eu sempre vivemos de forma consistente com nossas convicções e, quase sempre, fizemos o que acreditávamos que devíamos fazer, cada um a seu jeito. Então, eu acho que sim, que talvez possa entender porque um filme seja feito. Eu nunca pensei, mas já vivenciei muitas coisas inesperadas na minha vida.

P: Como é voltar aos lugares por onde passou com Ernesto?

(Risos) Sempre digo a mim mesmo que tenho um coração à prova de ferrugem, capaz de agüentar todo tipo de emoção. Mas confesso que houve momentos em que cheguei às lágrimas, especialmente ao me lembrar das pessoas idosas, dos idosos doentes, que eram crianças de nove e dez anos quando passamos por lá. Então me sinto feliz e grato à vida, por todas as coisas que ela me deu.

P: E o que pode dizer sobre Walter Salles?

Sobre Walter? Posso dizer que estou impressionado. Impressionado com sua capacidade, com sua integridade, com sua tenacidade. Com a maneira com que repetia cena após cena - que para mim pareciam perfeitas mas que ele sabia que poderiam melhorar - até que conseguisse exatamente o que queria. Acho que tivemos muita sorte de ter um diretor de tão alta qualidade.

P: Ficou emocionado quando viu a motocicleta no filme?

(Risos) Sim, fiquei. Ela era encantadora também. Acho que Walter Salles fez um ótimo trabalho na cena em que nos despedimos da moto. Um trabalho tão bom que fiquei tão emocionado quanto fiquei há 50 anos, como se a estivesse abandonando agora, pobrezinha, embrulhada em seu manto. Houve dois momentos no filme em que chorei: um foi quando me despedi da moto e o outro foi quando cruzei o Amazonas.

P: Consegue ainda se lembrar da viagem real?

Sim, eu me lembro. Vivenciei muitas coincidências a este respeito. Passo por lugares que me lembram desse ou daquele detalhe da viagem. Vejo um homem e ele me lembra alguém que conheci na viagem. Vivo uma aventura e ela me faz lembrar alguma pela qual vivi durante a viagem. Então, quase todo dia tem alguma coisa que me faz lembrar. E além disso, ela faz parte da personalidade de Ernesto, não é? Porque para entender Che Guevara mais inteiramente, e não apenas através de seus discursos e de sua vida política, você também precisa saber algo sobre sua formação, sobre como cresceu, sobre suas viagens. Tudo isso me ajuda a nunca esquecer a viagem.

P: Quais são suas melhores lembranças da viagem?

Bem, são muitas. Mas para mim a parte mais emocionante foi em San Pablo, quando os leprosos vieram se despedir de nós. Eles chegaram em um barco onde os doentes estavam separados dos sadios. Era um dia chuvoso. Nunca vou me esquecer. Os pacientes chegaram tocando música, dando adeus e nos dizendo que os havíamos tratado como gente normal e que eles jamais se esqueceriam disso. Ficamos tão emocionados com aquilo que mal conseguíamos falar. Só lamento não ter podido tirar uma foto, porque estava chuviscando e não tinha luz suficiente. Tenho muitas recordações emocionantes mas esta eu nunca vou esquecer por causa do local, do dia, da hora e tudo o mais.

P: Ainda dirige motocicletas?

Não. Já não me permitem mais. Outro dia Gael me levou para dar uma volta e fui o co-piloto. Mas não o piloto. 80 anos é muita idade para se dirigir uma motocicleta. (Risos)

fonte: http://filmes.net/diariosdemotocicleta/#