quinta-feira, 14 de maio de 2009

A vida é bela




A Vida é Bela é uma comédia e por isso desperta fúria e comoção. Fúria porque para alguns judeus e os politicamente corretíssimos o massacre nazi-fascista não deveria jamais servir de argumento para uma história tão leve e bem-humorada sobre o sofrimento no holocausto. Comoção porque conta a luta heróica de um pai determinado em fazer da guerra um jogo pueril para proteger o filho da cruel realidade dos seguidores de Hitler e Mussolini.
Não que a metáfora não sirva para amplas discussões: Guido chama as ações nos campos de concentração de gincana onde os judeus que seguirem as regras - esconderem-se, manterem-se em silêncio e não pedirem por comida - ganham pontos e concorrem a um tanque de guerra. A produção comove e convence sobre como a sétima arte pode emocionar com situações insólitas aliadas a fragmentos de realidade. Uma fábula humanista sem propósitos políticos, nem objetivo de deturpar a história.












Guido e a família:

vida feliz e

tranqüila antes

do holocausto


A Vida é Bela tem uma fórmula semelhante a de Central do Brasil. As atrocidades do holocausto judeu de Benigni não tem nada do chocante realismo visual de O Resgate do Soldado Ryan, ou do sufocante horror psicológico de Além da Linha Vermelha - dois principais filmes retratando a guerra, o primeiro do final do ano passado e o segundo com estréia prevista para o outono deste ano no Brasil. Assim como a produção brasileira, ela aposta em situações bem particulares para despertar a memória coletiva - pode ser o holocausto, a fome, a violência, a impotência.

E as coincidências se estendem a outras caracteríticas das produções: as duas têm entre seus principais personagens uma senhora chamada Dora e um garoto de nome Josué ou Giosuè (em italiano), a italiana já recebeu 30 prêmios em festivais e votações de público e crítica em todo o mundo e a brasileira 28. Sem falar nas atuações impecáveis dos protagonistas Roberto Benigni( também co-roteirista e diretor) e Fernanda Montenegro.






















http://www.terra.com.br/cinema/comedia/vida_bela.htm


quarta-feira, 6 de maio de 2009

segunda-feira, 4 de maio de 2009

O homem que virou suco



Clássico e Popular

O Homem que virou suco é exemplo típico ? e um dos melhores ? de um conjunto de operações que o cinema brasileiro fazia na segunda metade da década de 1970 para estabelecer um diálogo melhor com o público, sem trair as conquistas estéticas do Cinema Novo e do Cinema Marginal.

Para começar, o filme reelabora padrões da narrativa clássica com ingredientes de um cinema popular. Basicamente, é a história do duplo (expressionismo alemão) e do homem errado (policial estadunidense) que se desenrola entre Severino e Deraldo, os dois sósias nordestinos envolvidos num equívoco criminal. O tema igualmente clássico do imigrante é tratado desde o título, e em toda sua extensão, como material de literatura de cordel. Assim o diretor procura fundir seu filme com formas de representação características do povo nordestino.

Naquele período, o cinema brasileiro também experimentava uma crescente simbiose entre práticas do documentário e da ficção, num movimento iniciado por Iracema ? Uma transa amazônica, em 1974, de Jorge Bodanzky e Orlando Senna. Daí a importância da improvisação nos diálogos, de uma relação especialmente livre entre câmera e atores e até de uma certa submissão da técnica às condições do local de filmagem.

Por fim, vemos um diretor que não abre mão de seu passado. É nas seqüências de rua que João Batista de Andrade semeia os ecos de sua militância no cinema marginal paulista anos antes, quando era comum promover-se performances em praça pública para que o filme absorvesse o inesperado da participação popular.

Esta denúncia do esmagamento dos deraldos e severinos, seja pela marginalização, seja pela inserção aviltante, conta com a sensibilidade do diretor para criar uma poética em meio ao drama e à comédia. As cenas da batida policial noturna e da leitura da carta no alojamento dos operários são reveladoras de um olhar humanista que transcende toda urgência e objetividade.















A presença de José Dumont, no filme que o revelou plenamente, extrapola a mera questão cênica. No fundo, é o próprio ator que está na pele de Deraldo, ele que também chegou da Paraíba sem documentos e soube se impor pelas artes do talento. Coisa semelhante se passou com o próprio filme, lançado em 1980 sem maior repercussão e ?redescoberto? pelos brasileiros depois de vencer ex-aequo o Festival de Moscou. O suco, portanto, só veio depois da vodka.

O curta que complementa este programa reverbera o tema da imigração a partir de outro ícone da cultura nordestina: a canção Asa Branca, de Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira. Uma animação naïf, mas expressiva, reitera o drama da fuga para um sonho impossível.
















* Por Carlos Alberto Mattos, Crítico e pesquisador de cinema, autor de livros sobre Walter Lima Jr., Eduardo Coutinho, Carla Camurati, Jorge Bodanzky e Maurice Capovilla. Crítico de O Globo, do site criticos.com.br e autor do DocBlog / Globo Online.

http://www.programadorabrasil.org.br/programa/45/